segunda-feira, novembro 15, 2010

Um dia ao lado do nome mais procurado no Google


O jornal britâncio The Guardian passou um dia ao lado de Justin Bieber. Confira a matéria e a entrevistas feitas por Jon Ronson.

"Manhã de quinta-feira, San José, Califórnia. Justin Bieber senta em um camarim que geralmente é a casa da equipe de hockey San José Sharks. Mas há 23 Sharks e somente um dele - um pequeno garoto em uma sala enorme, vazia a não ser por um sofá, um documentarista apontando uma câmera para mim (Jon M Chu, diretor de Step Up 3D, agora fazendo o filme de Bieber, Never Say Never 3D), seu assessor de imprensa Mike, e seu Xbox. Ele, eu notei, escolheu para seu avatar no Xbox uma pequena garota negra vestindo uma saia xadrez.

A câmera 3D de Jon M Chu está capturando um circunspecto, ansioso eu. Minha ansiedade se deve ao fato de que Justin - tendo apenas 16 anos e sendo de longe a maior estrela adolescente do mundo, provavelmente a maior desde Michael Jackson - tende a disparar máximas muito polidas em entrevistas, como estas de sua recém publicada autobiografia, First Step 2 Forever: My Story:

"Cada um dos meus fãs é especial para mim... Isso tudo aconteceu por causa de vocês. Eu acordo sabendo que eu tenho os melhores fãs do mundo.... Minha equipe é a minha família e eles todos merecem seu momento para brilhar também..."

Essa cautela é compreensível, dados os milhões de anti-Biebers por aí, prontos para atacar qualquer passo errado, embora eles sejam uma gota no oceano comparados aos bilhões de Beliebers no mundo, um ser Belieber - de acordo com o Urban Dictionary - "Uma pessoa que ama Justin Bieber e acredita em tudo que ele pode fazer." De acordo com o Twitter, 3% de todo o seu movimento é relacionado a Beliebers, com servidores por todo o mundo dedicados a Justin e seus fãs. Em julho ele ultrapassou Lady Gaga como a pessoa mais procurada na internet.


Eu não estive sozinho com Justin, e eu estou preocupado que possa não haver tempo para cavar sob as platitudes e encontrar alguma (com alguma sorte) escuridão fascinante.

"Que vídeos engraçados do YouTube você tem visto ultimamente?" eu pergunto para ele.

"Tem um chamado Scarlet Takes A Tumble que é muito engraçado." ele diz. "Uma mulher está em uma mesa e ela está cantando e de repente ela fica na beirada e escorrega e cai. É muito engraçado."

"Que tal Charlie Bit My Finger?" eu o pergunto.

"Não é realmente tão engraçado." ele diz. "Você acha que Charlie Bit My Finger é engraçado?"

"Eu acho." eu digo.

Justin dá de ombros. "Para americanos e canadenses só é engraçado por causa do sotaque inglês." Ele pausa. "Tem um vídeo chamado Arab Screaming que é muito engraçado. É um cara árabe que começa a gritar. É simplesmente hilário. Você deveria ver. Vá."

Eu pergunto para Justin se alguma vez ele assiste aos seus próprios vídeos no YouTube. Ele diz enquanto ele entende os perigos de procurar a si mesmo no Google, ele algumas vezes lê os comentários. "'Você é tão idiota.', 'Sua música é um saco.', eu inclusive recebo, 'Você é gay' sem motivo aparente. Qual é o objetivo disso? Mas então eu lembro que há tantas pessoas que gostam dos meus vídeos que nem comentam. Quando eu gosto de um vídeo eu não perco meu tempo comentando. Mas as pessoas que odeiam você - elas vão tirar um tempo para odiar você."

Ele está em algum lugar no meio de uma turnê de 85 datas. Uma fila de ônibus está estacionada na baía. Eles dirigem em comboio pela noite de cidade a cidade, carregando Justin e um vasto exército de gente grande. Eu vejo eles nos bastidores: homens com olhares ansiosos vestindo ternos e segurando pranchetas. Mais cedo eu assisti Justin entrar e sair dali em seu Segway.

"Toda essa viagem faz você se sentir perdido?" eu pergunto.

"Você está tão longe" ele balança a cabeça, "e você começa a se sentir como se você fosse um robô. Quando eu atravesso o oceando a agenda é sempre louca e tem a mudança de horário e você nem é você mesmo. É estranho."

"Você alguma vez sente saudades dos dias em que você não era famoso?" eu pergunto.

Nessa Justin olha como se isso tudo estivesse ficando muito introspectivo. "Eu sou uma pessoa comum." ele diz apressadamente. "Eu estou vivendo o meu sonho e apenas aproveitando cada minuto disso."

Foi o YouTube que o fez famoso. Sua mãe, Pattie, que o teve quando tinha 18 anos, o criou sozinho na pequena cidade de Stratford, Ontário, Canadá.

"Minha mãe não era a melhor pessoa." Justin diz. "Quer dizer, ela era uma boa pessoa, mas ela cometeu erros. Ela bebia. Ela provavelmente usou drogas e essas coisas, e ela me contou sobre isso porque ela disse que ela fez coisas ruins o suficiente por nós dois. Eu não preciso fazer isso porque ela já fez. O fato é, ela mudou sua vida por minha causa. Quando eu nasci ela parou de fumar, ela parou de beber." Ele pausa. "Ela fez tudo aquilo por mim."

Seu pai, Jeremy, deixou o lar quando Justin tinha três anos, embora se você procurar o bastante na internet você encontrará fotos dele - um musculoso tatuado que chama a si mesmo de Lord Rauhl, que diz a bio, "Minha vida é meu filho. Ele tem 9 anos e é a pessoa mais talentosa que eu conheço. Ele é um 'looker' também (bem como o pai dele)!"

E acabou que Justin tem de fato talentos inesperados: "Eu posso resolver um Rubik's Cube (cubo mágico) em um minuto e meio." ele diz.

"De qualquer modo que ele esteja?" eu pergunto.

"Sim."

"Você é um gênio?" eu pergunto.

"Eu não diria um gênio, mas eu posso resolver um Rubik's Cube." ele diz. "E quebra-cabeças de sudoku."

E além disso, ele tem uma voz angelical sem esforço. Quando ele tinha 13 anos ele começou a cantar na rua para juntar dinheiro para visitar a Disney World. Passantes encantados o filmaram e colocaram os vídeos no YouTube. Ele entrou para o concurso local de talentos e sua mãe colocou aqueles vídeos também. Eles foram notados, primeiro por um empresário chamado Scooter Braun, depois por Usher e Justin Timberlake, que entraram em uma "briga" (Usher venceu), e então por zilhões de garotas adolescentes, tudo de uma vez, ao redor de todo o mundo. A maioria das estrelas conquista os países gradualmente, um por um. Justin instantaneamente tornou-se massivamente famoso por todos os lugares. Então eles o tiraram da escola e ele começou a vida que ele tem agora - professores particulares na turnê, sempre em movimento.

"Cantores não devem comer laticínios antes do show, mas todos nós sabemos que eu sou um quebrador de regras." First Step 2 Forever: My Story

Alguns meses atrás, enquanto visitava um programa de TV em Sidney chamado Sunrise, Justin estava sendo guiado pelo empresário local até o sofá. Ele colocou a sua mão nas costas de Justin.

"Nunca mais encoste em mim." Justin teria dito furiosamente para ele.

"Oh, ele nos diz isso toda hora." o homem que cuida do áudio de Justin murmurou para o empresário assustado.

Alguns dias depois do incidente no Sunrise, Justin estava na Nova Zelândia, sendo entrevistado por um apresentador com um forte sotaque do Kiwi. Ele perguntou para Justin se Bieber era a palavra alemã (German) para basquete.

"German?" Justin perguntou.

"German." disse o entrevistador. Justin parecia pálido. "German." disse o apresentador. "Sabe? German."

"Eu não sei o que isso significa." disse Justin.

"Aqui." disse o entrevistador, mostrando a ele a palavra German escrita em sua ficha.

"Eu não sei o que isso significa." disse Justin. "Nós não falamos isso na América."

Esses foram dias desastrosos - Justin foi quase um Scarlet Takes A Tumble. "Ele não poderia apertar em alguns minutos para aprender o que 'German' significa?" escreveu o Huffington Post. "O Beebs não sabe o que a palavra 'German' significa."

Logo depois um vídeo emergiu, filmado na Alemanha meses antes, em que Justin conta até 10 em alemão e fala amorosamente sobre seu bisavô alemão.

"Eu não conseguia entender o que o cara estava falando." explica Justin agora. "Eu sei o que é German. Obviamente." Ele pausa. "Parecia que ele estava falando Jewman."

"Você pensou que ele estava perguntando a você o que siginificava a palavra Jewman para o basquete?" eu pergunto.

"Eu não sabia o que ele estava falando." Justin pausa. "Mike?" Justin vira-se para o seu assessor de imprensa, sentado no canto distante. "Você estava lá."

"A maneira que ele colocou a questão foi confusa." Mike concorda. "Ele estava tentando ser engraçado."

"Mas nem é alemão para basquete." diz Justin.

"Foi uma piada." diz Mike.

"Foi estranho e eu não entendi." diz Justin.

"A propósito," eu digo, "a palavra Jewman para basquete é 'O jogo que nós não jogamos bem'."

"Você é Judeu?" pergunta Justin.

"Sim." eu digo.

"Legal." ele diz.

Ele recita a primeira frase do Shema - a prece judaica da manhã e da noite - falando as sílabas perfeitas: "Shema Yisrael Adonai Eloheinu Adonai 'Ehad'." Ele pausa. "Cristianismo foi baseado em Jesus sendo um Judeu." ele diz. "Eu respeito isso." Justin é um Cristão praticante. "Eu oro toda hora." ele diz. "Eu oro duas ou três vezes por dia. Quando eu acordo eu agradeço pelas minhas bênçãos, eu agradeço a Ele por me colocar nessa posição. E no final do dia eu pego a minha Bíblia. Na aula a minha tutora é Cristã, então nós lemos alguns versos da Bíblia. É algo que me mantém com os pés no chão."

"Quando você encontra pessoas atéias, você acha que elas seriam melhores se elas fossem Cristãs?" eu pergunto.

"Eles definitivamente estão perdendo." ele diz.

"Como é estudar em casa?" eu pergunto.

"Eu só tenho que ter três horas por dia, o que é bom." ele diz. "Eu me desconcentro. Eu definitivamente me desconcentro. Então eu sou melhor um-em-um."

Mas paradoxalmente, ele diz que ele também é perfeccionista. De fato, seu perfeccionismo é um problema: "Eu sou muito duro comigo mesmo. Eu sempre quero ser melhor."

"Você se cobra demais?" eu pergunto.

"Muito." ele diz. "Mas ultimamente eu tenho tentado superar isso."

Desconcentração, explosão de raiva, ser perfeccionista... "Você tem DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção)?" eu pergunto a ele.

"Eu..." Justin diz. "Eu tenho um pequeno caso de DDA."

"Como isso se manifesta?" eu pergunto.

"Se eu não entendo alguma coisa, e eu estou entediado, eu não presto atenção." ele diz. "Então minha professora tem realmente que fazer isso ser divertido para mim. A cada hora ela tem que me dar um intervalo de 10 minutos. Mas depois do intervalo eu volto para isso. Eu sou bom."

"Você na verdade já foi diagnosticado com DDA?" eu pergunto.

"Não." ele diz. "Isso se auto-afirmou."

"Eu fui diagnosticado com distúrbio de ansiedade generalizada." eu digo.

"Legal." diz ele.

"Você fica ansioso?" eu pergunto.

"Sim, eu tenho ansiedade algumas vezes." ele diz. "Principalmente quando as pessoas estão me empurrando em 20 direções diferentes. É quando eu tenho isso. Eu fico 'Me deixe apenas respirar por um segundo'."

"Se eu fosse você eu estaria constantemente dizendo para as pessoas não encostarem em mim." eu digo. "Porque você está sempre sendo aproveitado e estimulado."

"É difícil." Justin diz.

"Ele nega, aliás, ter dito ao empresário em Sidney para não encostar nele. - "Ouvir adultos espalharem mentiras e rumores é parte do trabalho, eu acho." ele twittou na época - mas ele admite ter perdido sua calma com ele. "Há tantas pessoas lhe dizendo o que fazer." ele diz. "Eu trabalho muito duro, e eu estou cansado, e eu tenho dias ruins." ele pausa. "Todo mundo tem dias ruins."

Ele me conta uma história de antes de ele ser famoso. Ele se aproximou do rapper Twista para um autógrafo: "Ele estava 'Agora não.' Eu estava tipo 'Droga.' Mas agora eu entendo a situação, eu entendo de onde ele estava vindo. Você tem tanto acontecendo. Tipo se eu estou comendo, eu não quero ser atrapalhado quando eu estou comendo. Esse é o meu único momento calmo. As pessoas não entendem. Elas acham que é tudo diversão. E que tudo é ótimo. Mas é um trabalho difícil." Ele fica em silêncio. Então ele completa, com certa veemência: "É mais difícil do que qualquer um pensa."

"O grande balão de aço foi desenhado para eu voar por cima da multidão, mergulhando não baixo o bastante para eles me tocarem, mas perto o bastante para eu ver todos aqueles lindos rostos." First Step 2 Forever: My Story

Justin escreve em sua autobiografia que o seu tópico favorito de conversação é "Garotas, garotas, garotas, garotas, garotas, garotas, GAROTAS." Eu digo a ele que eu estou preparado para perguntá-lo sobre garotas, mas preocupado também, por eu ser um homem de 43 anos e eu acho que isso parecerá sinistro.

"Você pode me perguntar sobre garotas." diz Justin, tranquilizadoramente. "Está tudo bem. Eu gosto de garotas. Garotas são incríves. É."

"Como você encontrará uma namorada que não vá simplesmente passar  o tempo inteiro pensando, 'É o Justin Bieber.'?" eu pergunto.

"É o que é difícil sobre isso." ele diz. "Há tantas garotas que iriam simplesmente fazer qualquer coisa por mim por causa do meu status." ele pausa. "Alguém me disse que é ótimo estar com alguém que tem tanto a perder quanto você."

"Então você terá que sair com alguém famoso?" eu pergunto.

"É. Essa é provavelmente uma boa ideia. Porque eu nunca vou poder namorar alguém que está tão apaixonado por mim que faria qualquer coisa por mim."

Ele dá de ombros como se fosse para se desculpar pelo tom melancólico e para baixo da entrevista. Ele diz que eu deveria estar contente por eu não tê-lo pegado em um dia ruim.

"Mike conhece meus dias ruins." ele diz.

"Aja como se você estivesse em um dia ruim." eu digo.

"OK. Me faça uma pergunta." ele diz.

"O que você acha daquele sofá?" eu digo.

Justin me dá um olhar de tédio tingido com certa antipatia: "Eu gosto." ele sussurra. "Próxima pergunta."

Um arrepio me percorre. "Obrigado Deus, você não está tendo um dia ruim." eu digo.

"Eu estaria com o olhar perdido." ele diz. "Eu estaria para lá. Eu não estaria focado em você. Em bons dias eu estou..." Justin inclina-se até estar a um centímetro do meu rosto. Ele me dá um vasto e petrificado sorriso.

Do lado de fora do saguão, centenas de vencedores de competições estão se preparando para seu meet&greet com Justin. Mike, o assessor de imprensa, explica que o conceito mudou através das décadas. Nos velhos dias, ela poderia ter tomado a forma dessas festas com bebida. Mas agora há uma longa fila de pessoas, quatro de cada vez, em uma sala em que Justin está. Eles dizem olá, tiram suas fotos, e são levados de volta para fora rapidamente.

E isso é inacabável. Fã depois de fã. Justin diz oi. Elas gritam e parecem que vão morrer. Elas tiram suas fotos com ele. Elas vão. Cada encontro dura talvez 30 segundos cada. Muitas delas levam cartas, que elas entregam para Justin, que as entregam para algúem, que as entregam para outro alguém, que as colocam em um balcão próxim. O que acontece com elas depois disso, eu não sei. E dou uma lida rápida em algumas delas:

"Então eu estou sentada aqui para escrever essa carta para você. Eu não sabia que seria tão dificil... Eu sou apenas essa pessoa baixa...

Me ligue: 510-502..."

Uma garota entrega uma carta a Justin e então parece carregada de dúvida e suspeita.

"Leia!" ela berra para ele. Então ela vira para mim. "Olhe para ele enquanto ele lê." ela grita.

Perto, há um Justin de papelão maior que a vida. O Justin real divaga sobre ele. "Para quem você está olhando, amigo?" ele sussura. Ele o soca no rosto.

Alguns minutos depois o momento de outra garota com Justin acaba por conicidir com ele estando rapidamente distraído. "Jesus!" ela fala enquanto está saindo. "Ele não disse oi nem nada."

Mas Justin já está posando para outra fotografia."

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